#7: Uma dose de Força para 2024

(sobre o arcano do ano e a suavização dos planos)

Nas cores verde e rosa, lê-se "Luisaleituras" com uma vassoura de bruxa embaixo e alguns brilhinhos ao redor

É maio, mas vamos fingir que o ano ainda está começando, porque esta é a primeira cartinha da newsletter em 2024.

Passei muitas semanas ensaiando na minha cabeça o que gostaria de falar por aqui, tanto tempo que as ideias foram passando e sumindo. Queria falar sobre o equilíbrio (e o desequilíbrio) entre um trabalho CLT de 40h semanais e a escrita. Sobre o desafio de escrever sequências. Sobre monster romances e outras safadezas. Mas vamos começar pelo básico: 2024, qual é a desse ano?

Foi bom eu não ter feito uma edição sobre os meus planos, porque eles começaram mirabolantes e, só agora, consigo analisar tudo com mais calma e noção das minhas capacidades. Estou suavizando as coisas, entende? Aparando as arestas. Deixando redondinho. Assim, quando for para os planos rolarem morro abaixo, eles poderão deslizar com graça e elegância.

Hoje quero falar de pouca coisa, mas não é um texto curto, eis o que vou abordar:

  • Um pouco de tarô e o arcano de 2024;

  • Ser forte também é ser gentil;

  • Escrever o que a gente ama é um salto do abismo.

O arcano de 2024

Alguns tarólogos consideram 2024 como o ano do Arcano VIII no tarô. Isso porque, se somarmos todos os números que compõem a data (2+0+2+4), ficamos com o número 8.

O engraçado é que existem dois Arcanos VIII. No baralho de algumas pessoas, é A Justiça. No de outras, A Força. Como no meu baralho o VIII é A Força, essa é a carta pela qual estou me guiando, mas também vejo muito da Justiça no que vivenciamos até aqui.

Na carta, uma mulher se abaixa para fazer carinho em um leão, que olha para cima, encarando-a com felicidade. Ela tem um símbolo do infinito sobre a cabeça e usa uma coroa de flores.

Do clássico deck de Rider–Waite–Smith

Além de me guiar pela numerologia, eu também faço a minha própria tiragem a cada ano, buscando uma carta que se relacione mais com a minha jornada pessoal. E adivinha qual carta tirei para 2024? Isso mesmo, A Força. O universo e eu, best friends.

Na grama, uma menina está deitada com o corpo apoiado no de um leão, os dois parecendo confortáveis na presença um do outro, e ela fazendo carinho no animal.

Do meu deck, inspirado no Mucha

Eu amo essa carta. Só de olhar para ela, vem um quentinho gostoso no peito. É sobre força, mas também é sobre conforto. Acho que se deitar na grama com os seus medos e os seus sonhos, lado a lado, é mesmo muito reconfortante.

Sempre interpreto o leão como uma extensão da gente. Aquela parte que é fera, que tem garras. Isso também me faz lembrar do poema Pour Mémoire, da Ana Cristina Cesar, um dos meus favoritos da vida. Vou compartilhar um trecho:

Não me toques

nesta lembrança.

Não perguntes a respeito

que viro mãe-leoa

ou pedra-lage lívida

ereta

na grama

muito bem-feita.

Estas são as faces da minha fúria.

Ana Cristina Cesar - Pour Mémoire

Eu poderia contextualizar a carta da Força e o poema da Ana C. de diversas formas, mas como esta newsletter ainda é sobre escrita, queria falar sobre como às vezes a gente vira mãe-leoa para proteger o que escreve. E essa proteção pode significar nunca escrever a história que mais amamos. Ou nunca publicá-la. Sou assim com uma história, ela vive há anos só em pedaços de texto e na minha cabeça

Também tentamos proteger os textos já publicados. Não sou de discutir com leitor, por exemplo, e abomino esse comportamento em outros autores, mas de vez em quando eu só tenho vontade, sabe? Quero pular para defender meus personagens, justificar as ações deles, e que bom que tenho amigos que me deixam fazer justamente isso — em ambiente controlado, graças a Deus, não no Twitter.

Quando penso no sonho que tenho de um dia publicar um livro físico, também me sinto um pouco fera, mas nesse caso as minhas garras só arranham a minha própria barriga. E se nunca acontecer, eu me pergunto. E se der tudo errado? E se as pessoas odiarem o meu livro? E se eu odiar o meu livro depois de publicado? Já tentei me convencer a largar mão desse sonho. A sonhar outros. Apesar disso, ele permaneceu.

Começou em 2023, mas eu finalmente me deitei na grama com meus sonhos de escrita. Fiz carinho e prometi não ir embora, nem pedir para eles irem. Dá para sentir o ronronar de um grande leão enquanto escrevo isso.

Ser forte também é ser gentil

Ter gentileza com os meus sonhos — e com o medo de realizar cada um deles e me frustrar de alguma forma — significa ser gentil comigo também. Requer a calma de pensar “ok, esses sonhos vão se realizar” e começar a planejar os passos que vão tornar essa realização possível, garantir que os sonhos não me quebrem no caminho. Aqui, na grama com o meu leão, estou praticando algumas formas de dizer não.

Por exemplo, não, não tenho ideia de quando vou escrever a sequência de Como (não) Destruir Uma Banda e meu único consolo é não ter deixado o primeiro livro com tantas pontas soltas (ele termina em um felizes por agora, que pode não ser um felizes para sempre, mas pelo menos é feliz). Mas eu sei que vou escrever.

Também, no espírito da gentileza comigo, eu consegui comunicar aos leitores de As Novas Românticas que não vou mais atualizar semanalmente. Isso foi um grande ato de coragem e amor, fiz isso esperando que as pessoas me odiassem por quebrar o cronograma de postagens e por fazê-los esperar mais pelos próximos capítulos. Mas eu sabia que ninguém teria a história que merece — e eu não escreveria a história que quero escrever — se eu não fizesse isso.

Eu também adiei para sabe-se lá quando a publicação do meu monster romance, cuja capa já compartilhei por aqui. Ele está quase pronto, passou pela preparação e está nas mãos da minha agente, mas não vai ter como encaixá-lo na minha agenda de publicações para este semestre.

Mas sabe que, falando tudo isso, eu só consigo sorrir e pensar em como é um privilégio ter tantas histórias que agora o meu problema é só não ter tempo. Houve uma época em que eu tinha tempo, mas não tinha história nenhuma pronta, e olha só onde estou agora. A Lu de dezesseis anos ficaria orgulhosa. A Lu de vinte e sete com certeza está.

Escrever o que a gente ama é um salto do abismo

Esporte radical, a escrita. Só que para os sedentários. É adrenalina sem sair de casa, aquele frio na barriga enquanto a gente toma uma xícara quentinha de café. Aconchegante e arriscado. Não é à toa que é a coisa que mais amo fazer na vida.

O primeiro livro que escrevi no meu retorno à escrita, em 2020, depois de anos em que passei sem conseguir concluir nada, foi uma noveleta que fiz logo depois que o meu marido se entendeu uma pessoa transmasculina. Se chama Otra, sonhadora (sim, Otra se escreve assim mesmo). Dediquei essa noveleta a ele — e até hoje foi o único livro meu que ele conseguiu ler, já que faleceu pouco antes de eu concluir a edição de Noturnas e Natalinas —, mas a verdade é que escrevi para nós dois.

Um dia ainda publico essa história para todo mundo ler, mas, enquanto isso não acontece, posso dizer que ela é sobre sonhos e riscos. Sobre atravessar mundos para ficar com quem a gente ama. Sobre a beleza na transição.

Eu viro mãe-leoa com essa história, sem brincadeira. É difícil permitir que outras pessoas toquem nessa lembrança, agora que ela se tornou ainda mais preciosa. A gente tem essa ideia na cabeça de que as coisas preciosas são frágeis, sabe?

Otra, sonhadora foi um salto, mas quando eu toquei o chão e vi que o abismo não era só ar e queda… foi pura magia.

Desde então, venho transformando em livros as minhas ideias mais bobas e mais amadas. Como vampiras fazendo uma decoração de Natal. Uma garota ficando com os três caras da banda favorita dela, sem precisar escolher entre um ou outro. Uma doida que se acha a Rapunzel, entre outras coisas.

Toda vez, eu penso “isso é muito eu, ninguém além de mim vai querer ler” e me descubro muito errada sobre isso. Um ótimo exemplo é As Novas Românticas. Claro, eu sabia que muita gente gosta de Taylor Swift. E que o futebol femino até tem algumas admiradoras entre as leitoras. Mas ler uma história inspirada em Taylor Swift e com futebol feminino? Eu não imaginava que esse mundo poderia colidir para tanta gente, mas o livro já ultrapassou 100 mil leituras no Wattpad e eu sou obrigada a dizer que meus saltos do abismo deram certo. Sempre tem leitor para pular comigo.

Acho que esse tipo de salto produz as histórias mais únicas. A gente pode até estudar o mercado, temos as nossas inspirações em outras mídias, mas são essas histórias construídas nos três pilares de PORQUE, EU e QUIS que se transformam no tipo de livro que as pessoas favoritam.

E não falo isso só por causa dos livros que escrevi, falo pensando nos que li e favoritei também. É incrível amar um livro e pensar “eu nunca seria capaz de fazer isso”. E me faz querer escrever os livros que as pessoas, ao lerem, percebam que só eu poderia ter feito assim, desse jeitinho.

O que tudo isso significa para o ano?

Pensando no arcano da Força, um pouco na Justiça também, e na minha busca por suavizar todo o meu processo de escrita, estou tentando encarar 2024 com mais serenidade e paciência. Isso quer dizer ser mais flexível nas minhas metas. Para não abandonar nenhuma, eu preciso reavaliar e reorganizar tudo constantemente.

A única coisa que posso dizer com certeza é que vou terminar de publicar As Novas Românticas nos próximos meses e que depois o livro vai continur no Wattpad por um tempo, porque eu amo a comunidade de leitores da plataforma e gosto de ter essa história gratuita para todos terem a chance de ler. Teremos as Olimpíadas este ano — que serão retratadas no livro, inclusive — e espero que a história já esteja completa até lá.

Aos poucos, vou compartilhando aqui as novidades e as histórias que tenho guardadas. Enquanto isso, que 2024 esteja tratando todo mundo com carinho e que vocês também estejam tirando momentos para deitar na grama e ficar em paz com as coisas como elas são.

Notícias, notícias:

  • Este ano, a minha agente abriu a Agência Moneta, cujo foco é em histórias de romance. Eu me sinto muito em casa nessa agência e amo as minhas colegas, espero que a gente possa realizar nossos sonhos juntinhas.

    A logo é em tom bege e verde escuro. Mostra o nome da agência e uma lira.
  • Enquanto o universo não desmoronar, da Adrielli Almeida, é o primeiro livro de uma autora da Moneta sendo publicado e, como amiga e colega, eu estou nas nuvens com esse lançamento. O livro já está em pré-venda aqui.

    A capa é em tons de azul e âmbar, com dois adolescentes se encarando e, no fundo atrás deles, a rua e as casas de uma cidade desmoronando e sendo sugadas para o céu.
  • As Novas Românticas agora tem sua primeira ilustração, feita pela Emily. Ela retrata uma das minhas cenas favoritas da história, no primeiro confronto das protagonistas como rivais (em vez de colegas de time) e eu amo como o pessoal do TikTok, só de olhar para a imagem, já entendeu que as personagens são inspiradas na Lucy Bronze e na Ona Batlle.

    Num estádio de futebol, duas jogadoras estão frente a frente. A jogadora da Inglaterra, Connie Ember, se inclina para beijar as costas da mão da jogadora brasileira, Rebeca Ferraz, que a encara abismada. As duas têm a pele branca e cabelos castanhos, os de Ember em um coque e os de Rebeca em uma trança. Elas usam os uniformes de suas seleções, um pouco sujos por causa do jogo intenso.

Vem aí…

Ainda quero fazer uma newsletter contando mais sobre o que significa ter uma rotina de escrita flexível, que se adeque a outro trabalho de 40h, e quero compartilhar novidades que me deixam sorrindo feito boba.

Um abraço e até a próxima!

Reply

or to participate.